segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Versos trasladados (VI) - Luiz Manoel Ferreira Maia

Janeiro, 2010

 
O bufão e o rei

Meu cantar espanta meus males
Minha voz imita tenores
Barítonos
Vez em quando menestréis

Sou um fingidor
Porque nego a emoção
Dos versos que lanço ao vento

Minto
Na verdade do poeta
Tenho voz dissimulada
Ao falar da minha dor
Ao revolver minha saudade

O bufão me adorna
Com espalhafatos

Seus guizos
Agitam minha alma em risos

O rei me empresta
Sua majestade

Cada qual é a metade
De dois fanfarrões em festa


Um pirueta e dança
Finge alegria
Em dores de amores

Desajeitado
O outro requebra os quadris

Aplaude
Em rasgos abobalhados
Volteia e pede bis

Entreolham-se em caretas
Da alma lavam as agruras

Bufão e rei
São eles as mesmas figuras
Passaram por onde andei
Mesmo chão em que amei
Nos romances de operetas

Num palco de incertezas
Fazem pouco das tristezas
Em máscaras tragicômicas

Na verdade espantam seus males
Dizem cantando que eram
Comigo tão parecidos

Ou ainda
Somos iguais e fingidos

Bufão e rei comparados
À minha direita ou esquerda
Em risos lamentam a perda
De tesouros não encontrados

Do livro "Universo e Vida" ´Poesia e prosa

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