domingo, 12 de agosto de 2012

Sombra fugidia - Conto de Luiz Manoel Ferreira Maia

Naquela primeira noite em que foram definidos os pares para a formação do grupo de dança, não se ouviu qualquer pergunta sobre a jovem desconhecida, apenas alguém observara que ela havia chegado às escondidas. Certamente ela ouvira falar sobre a reunião e recebera despretensioso convite. Um jovem, porém, acreditava que o destino a conduzira até ali para deixá-lo fascinado com sua feminilidade desabrochada em alegria, envolvê-lo com sua simpatia e torná-lo cativo de seu olhar, de sua voz e de seu sorriso. Daí em diante ele nunca duvidou que essas lembranças lhe ficassem para sempre. Na noite seguinte e nas demais em que ele tentou alongá-las na felicidade de tê-la junto a si, não acalmava seu espírito em cada despedida e inquietava-se enquanto a misteriosa jovem não chegava novamente. Suspirava e sentia seu coração exultante quando finalmente a via aproximar-se em passos ligeiros, com sua sombra esguia deslizando fugidia pelos muros, na rua mal iluminada. Nesses encontros juntavam-se porções de uma paixão que corria a rédeas soltas, ávida e intensa a cada escapulida do aprisco que a guardava para outro. Entretanto, ele antevia com tristeza as vezes de espera em vão e que ela não estaria presente por longo tempo em sua vida.

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